9/16/2006

Filosofia e Matemática

Procurava em meus livros de filosofia uma maneira adequada e atrativa para defini-la e conceituá-la e por uma conspiração do universo em seus diversos fatores combinados saltou-me aos olhos de forma singular um livro chamado O Homem que Calculava, de Malba Tahan. Comecei despretensiosamente a procurar alguma resposta para meus questionamentos, foi quando uma breve e simples estória me chamou a atenção:
Três jovens amigos encontram-se em um restaurante, cujo preço total da refeição foi de R$ 25,00 (vinte e cinco reais). Cada um tira do bolso R$ 10,00 (dez reais) e entrega ao garçom, que logo em seguida volta com o troco de cinco reais em moedas de um. O mais velho dos amigos toma as cinco moedas e distribui uma para cada, sobrando em suas mãos dois reais. Com a sincera preocupação de justiça, reflete alguns instantes e presenteia, com as duas moedas restantes, o garçom que os havia servido. No mesmo instante, o mais novo dos jovens, levanta-se e com uma séria expressão, questiona:
- Acabamos de cometer um sério erro nesta conta, ou um problema que parece absurdo. Desapareceu um real! – e assim começa a explicar sua lógica de pensamento: cada um de nós pagou dez reais e recebeu um de volta. Logo, cada um pagou, de fato, nove reais pela conta. Somos três. É claro que nove vezes três resulta na quantia de vinte e sete reais; somando-se esses vinte e sete reais com os dois dados ao garçom o valor total é de vinte e nove reais, ou seja, dos trinta que pagamos apenas vinte e nove aparecem. Onde se encontra o outro real? Como desapareceu? Que mistério é esse?
O mais velho (O Homem que Calculava) reflete e pronuncia:
- Não há engano algum. A conta não deve ser realizada desse modo. Dos trinta reais pagos temos: R$ 25,00 pela refeição; R$ 3,00 devolvidos; e R$ 2,00 dados ao garçom, está correto, não tem mistério algum.
Mas, o que aconteceu com a explicação aparentemente lógica apresentada pelo mais novo dos amigos? Onde está o equivoco neste pensamento?
Vejamos: a maneira com a qual a questão foi apresentada é onde se encontra o equivoco. No total de vinte e sete reais já estavam inclusos os dois reais pagos de gorjeta ao garçom (visto que a refeição foi de vinte e cinco reais mais dois) que somados aos três que cada um carregava para casa totaliza a quantia inicial de trinta reais, ou seja, além de acrescentar a gorjeta duas vezes no problema o jovem deixa de lado o um real de cada.
Os leitores estão se perguntando: o que essa história, além de interessante do ponto de vista matemático, tem relação com a filosofia? Ora, exatamente o que os leitores acabam de fazer: questionamento! A filosofia – ao contrário da ciência que se preocupa com o como – centra-se no porque das coisas, dos acontecimentos, dos fenômenos, da vida. É a maneira que formulamos as perguntas que nos interessa. São os questionamentos acerca de nossa existência cotidiana, que vai desde escrever um artigo como este até almoçar com amigos no restaurante. É a incessante busca pelo conhecimento, o eterno questionar-se. É, antes, fazer as perguntas à dar as respostas com as quais muitas vezes nos acomodamos e apenas sobrevivemos e não vivemos. É a eterna busca de algo que não nunca encontraremos, ou, que às vezes encontramos onde menos esperamos, até na matemática.

9/08/2006

Manifesto PCC Revolucionário

Marx analisou a sociedade de sua época e verificou que a classe que detinha o potencial revolucionário socialista era a classe trabalhadora. Foi uma época, baseada na revolução industrial, de grandes transformações no mundo do trabalho cuja classe operária estava no centro dessas transformações, pois com suas mãos movimentavam as engrenagens do sistema capitalista. Daí ser o centro desse importante papel histórico revolucionário.O poder político era, e ainda é, fundamentado no poder econômico. Os donos dos meios de produção também possuíam o poder político e cultural nas mãos. Para acontecer a revolução os trabalhadores deveriam tomar o poder e implantar a conhecida e condenada “ditadura do proletariado”. Com o poder político nas mãos essa classe teria condições de organizar, planejar e executar a produção de mercadorias coletivamente distribuindo a riqueza de maneira igualitária para todos. No entanto, para que isso acontecesse era necessário a união e organização do proletariado. Neste processo eles tomariam a consciência-de-classe em si e para si, compreendendo seu papel histórico e agindo para que ele se efetivasse. Engels, parceiro de Marx, escreveu que a violência seria a parteira dessa nova sociedade. Toda essa teoria foi executada na Rússia, antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No entanto, a história nos mostrou que o sistema instaurado não repercutiu da maneira esperada. Foram momentos de tensão e terror desde outubro de 1917 até a queda do muro de Berlim, em 1989, e o definitivo fim do conhecido leste europeu socialista. A América Latina sofreu esse processo de maneira particular. Orientada pelo poder norte-americano foram instaladas contra-revoluções capitalistas sob o comando militar. No Brasil, em 1964, o sonho comunista foi derrotado pela Ditadura Militar, que igualmente instaurou tensão e terror em nosso país.No entanto, não foi apenas um muro que caiu, foi o fim da utopia do socialismo real. A chama da esperança de um mundo comunista com igualdade e liberdade chegava ao fim. O sentimento de derrota e o vazio no peito tomou conta dos sonhadores românticos. Tal vazio foi preenchido com o fanatismo religioso oportunista, que tomou conta das lutas através de grupos terroristas armados com os próprios resíduos do mundo socialista.Hoje a realidade se modificou, a política se orienta pela democracia neoliberal, que curiosamente continua sendo comandada pelo poder econômico. Um exemplo desse comando é o próprio “mensalão”, em que é necessário comprar votos e barganhar recursos para que o poder legislativo permita que a democracia funcione da maneira que deveria funcionar por princípio. As análises de Marx, com as devidas contextualizações, ainda continuam valendo para essa sociedade, pois afinal ele analisou o funcionamento do sistema capitalista e pelo que sabemos esse sistema ainda continua prevalecendo e determinando nossas relações sociais. No entanto, o mundo do trabalho novamente se transformou, sofremos a revolução micro-eletrônica que criou um enorme exército de trabalhadores reserva e um gigantesco exército de inúteis para o sistema. Esses seres humanos, outrora trabalhadores, pelo próprio instinto do Estado de Natureza criaram estratégias e mecanismos para sobreviverem. Estão jogados nos bolsões de pobreza, também conhecidos como favelas, unindo-se forçosamente se organizam de diversas maneiras para tentar viver dignamente e buscar a tão sonhada felicidade contada na novela das oito, ou das oito e meia, ou nove. Como as antigas associações de bairros não são tão importantes como antigamente. Podemos citar algumas formas atuais de organização da população: Escolas de Samba, Mega-religiões Evangélicas, Torcidas Organizadas, entre outras, que de maneira mística e mítica dão algum sentido para a existência dessa população que sofre tanto com os dardos do destino cruel.O povo da América Latina tem uma peculiar característica: é um povo com forte marca sonhadora que aguarda a vinda do messias que o salvará da miséria dos homens. Enquanto este messias não vem as esperanças de uma vida melhor são acesas por líderes carismáticos, a exemplo de Hugo Chaves, na Venezuela, que com suas políticas populistas orientam a nação. No Brasil isso não aconteceu, embora o espírito nas eleições de 2002 fosse o mesmo. Assim, na falta desse líder político a necessidade de preencher o imaginário com as figuras de lutadores e questionadores são substituídas por apresentadores de programas policiais e esportivos, que gritam e dançam diante das câmeras de TV.Há também uma grande parte da população que vivencia as desigualdades de outra maneira. São quase atropelados, pela Mercedez de vidro fumê que desrespeita a faixa de pedestre, quando estão indo procurar trabalho para sustentar suas famílias. Os ricos empresários ostentam a criação da própria miséria alheia. São homens juridicamente iguais, mas economicamente diferentes, pois a maioria não teve a capacidade de ser selecionado no programa Aprendiz. O pior é que nem possuem telefone para desabafarem no Fala que eu te escuto. Mas o show da vida continua, para chegar lá é só lutar. E é isso que irão fazer criando facções e organizações que lhes garantem a realização do sonho da Casa Própria ou da gorda mensalidade para votar. O exército agora não é mais de reserva, cansaram de ver seu povo ser destruído pela guerra do mercado. Organizaram-se e manifestaram sua indignação perante o sistema. No entanto, o que me deixa triste é que atacaram apenas uma face do inimigo. O sistema carcerário é apenas uma peça dessa imensa organização chamada vida. Seu potencial revolucionário está canalizado para o alvo errado. Mas assim como a política de cotas para negros na universidade, ou a política de assistência social para os pobres, são apenas ações para afirmar e mostrar que alguma coisa no passado deu errado e continua sendo repetida.